A CASA E A COZINHA
A história das cozinhas é pouco conhecida, assim como dos seus equipamentos, utensílios e ferramentas. Ela se mescla com a história da própria casa e de seus espaços, que vão se especializando ao longo do século XIX. Até então, cada espaço das casas tinha múltiplas funções, sendo ao mesmo tempo local de cozinhar, dormir e trabalhar. É somente com a urbanização e a modernização da sociedade brasileira, que as casas passam a ter espaços especializados para a realização das atividades domésticas. Essa transformação é visível principalmente nas casas da burguesia urbana, já que nas cidades grande parte da população vivia em cortiços, compartilhando quartos, cozinhas e banheiros coletivos. A cozinha foi um dos espaços que mais sofreu transformações nesse período. Com a industrialização, fogueiras e fornos improvisados deram lugar a fogões, a lenha e, mais tarde, a gás. Nas cidades, a água passou a ser encanada e a cozinha deixou de ser um espaço externo, muitas vezes coberto com palha e sem paredes, para ganhar seu lugar entre os cômodos das novas residências urbanas.
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NESTA CURADORIA
UTENSÍLIOS DE COZINHA
No período colonial, os utensílios e ferramentas de cozinha e mesa eram escassos e pouco sofisticados. Cuias e panelas de barro, copos de cabaça e quase nenhum talher. O fogão era no geral uma fogueira aberta, que espalhava fumaça pelos cômodos e deixava as paredes enegrecidas de fuligem. Isso se devia à ausência de chaminés e às poucas janelas existentes nas casas coloniais. Em muitas residências, a cozinha ficava do lado externo, para evitar a fumaça no interior, onde eram cuidadas pelas escravas, marcando também a diferença entre os espaços dos senhores e os dos escravos.
Com o passar dos séculos, as refeições se tornam momentos mais importantes nos processos de sociabilidade familiar, e ter as cozinhas no interior das residências se tornou mais prático.
Devido a falta de utensílios, mesmo nas casas ricas, era costume comer com as mãos. Os talheres, de tão raros, eram deixados de herança e constavam nos inventários. Objetos de prata, como bandejas, salvas e gomil eram raros e exclusivos de pessoas abastadas. No geral a louça era de barro e nos engenhos era comum a existência de um forno no qual eram cozidas. As porcelanas mais finas chegavam das Índias e eram comuns nas casas de ricos comerciantes que tinham o benefício de monopólios régios e, dessa forma, acesso a produtos importados.
OS OBJETOS DO DIA A DIA
Com a chegada da família real em 1808, diversas manufaturas puderam se instalar no Brasil. O acesso aos produtos importados também aumentou, permitindo que utensílios de diversas naturezas passassem a povoar os lares. O consumo de “supérfluos” mudou a vida social da nova corte e do Império, recém instalados no Brasil. A nova burguesia, surgida do desenvolvimento econômico, permitia a ascensão social não somente pela hereditariedade, mas também pelo trabalho, por meio de atividades comerciais, industriais, financeiras, manufatureiras etc.
Ao longo do século XIX, os objetos coloniais, mais simples e rústicos, foram substituídos, principalmente nas casas mais abastadas, pelos refinados utensílios e móveis europeus. Na cozinha e, principalmente na mesa era possível encontrar com mais frequência, jogos de louças inglesas, francesas e alemãs, entre outros muitos objetos manufaturados e industrializados,
símbolos de modernidade e distinção entre as elites nacionais do período.Esses utensílios eram expostos ao olhar nos novos espaços domésticos, como a sala de jantar, separada da cozinha, nas quais ainda eram utilizados os rústicos potes de barro, as panelas de ferro e os alguidares de madeira.
As louças, durante os séculos XVIII e XIX, eram intensamente decoradas com cenas de caça, paisagens, plantas, frutos e flores em profusão. Utilizando a técnica do decalque, essas louças, inicialmente azuis e produzidas na Inglaterra, logo se disseminaram por toda a Europa, adquirindo outros tons como púrpura, sépia e rosa. Já mais para o final do século XIX o gosto pelas louças decoradas foi substituído pelas louças brancas, decoradas com filetes de ouro e prata, e estampadas com monogramas. Esse mesmo gosto repercutiu entre as classes abastadas no Brasil (LIMA, 1995).
A FABRICAÇÃO DOS OBJETOS
A diversidade de materiais dos quais são feitos os objetos de cozinha e mesa atesta a evolução das técnicas de fabricação e o crescimento dos processos industriais. O surgimento das manufaturas europeias e, posteriormente, sua implantação no Brasil, fez com que o acesso a esses bens se popularizasse. Os acervos dos museus do Ibram atestam essa diversidade de materiais presentes nos utensílios de cozinha e mesa.
BARRO, PEDRA E PALHA
Os objetos de origem indígena foram, durante muito tempo, os únicos encontrados nas cozinhas coloniais. Essa influência é sentida até os dias atuais, por meio da utilização de cestos de palha, panelas de barro e colheres de pau. Nos acervos dos museus do Ibram é possível encontrar alguns desses objetos. Mesmo sem datação específica, esses utensílios atestam a importância das variadas culturas indígenas presentes no nosso território na conformação dos hábitos alimentares e culinários brasileiros.
O FILTRO DE BARRO
Não se sabe com certeza a origem dos filtros de barro. No Brasil existiam as moringas e as talhas, que limpavam por decantação, mas que não eram tão eficientes. Na Europa, existiam filtros de pedra e metal que utilizavam a tecnologia das velas para a filtragem da água. Essas velas foram trazidas pelos imigrantes e foram incorporadas aos filtros de barro nacionais. A primeira manufatura de filtros de barro foi a cerâmica Lamparelli, que fabricava o tradicional filtro de barro vermelho na cidade de Jaboticabal. Os exemplares que existem nos museus do Ibram são anteriores a essa época e utilizavam as tecnologias de decantação e fervura para a purificação da água.
Para mais informações veja: https://pt.wikipedia.org/wiki/Filtro_de_barro